Poeta, ensaísta, jornalista e tradutor, José Paulo Paes nasceu em 22 de julho de 1926 em Taquaritinga, SP. Transferiu-se para Curitiba em 1944, onde conviveu com vários intelectuais da época, dentre eles o poeta Glauco Flores de Brito e Dalton Trevisan. Retornou a São Paulo em 1949, e após trabalhar em uma indústria farmacêutica, iniciou sua carreira como editor na Editora Cultrix, onde permaneceu por mais de vinte anos. Autodidata no aprendizado das línguas inglesa, francesa, italiana, alemã, espanhola, dinamarquesa e grega, dedicou-se à tradução de vários autores.
Seus poemas são muitas vezes cursos, no formato de epigramas, divertidos, cáusticos, por outras fazendo graça do próprio poeta.
Alguns dos seus poemas:
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SALDO
a torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)
a luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)
a porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro)
*
Declaração de bens
meu deus
minha pátria
minha família
minha casa
meu clube
meu carro
minha mulher
minha escova de dentes
meus calos
minha vida
meu câncer
meus vermes
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EPITÁFIO PARA UM BANQUEIRO
negócio
ego
ócio
cio
0
(o = zero)
*
DRUMMONDIANA
Quando as amantes e o amigo
te transformarem num trapo,
faça um poema,
faça um poema, Joaquim!
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A MARCHA DAS UTOPIAS
não era esta a independência que eu sonhava
não era esta a república que eu sonhava
não era este o socialismo que eu sonhava
não era este o apocalipse que eu sonhava
*
BRECHT REVISITADO
partido: o que partiu
rumo ao futuro
mas no caminho esqueceu
a razão da partida
(só perdemos
a viagem camaradas
não a estrada
nem a vida)